Manoel Bomfim

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Manoel Bomfim

por Talita Emily Fontes

Manoel José do Bomfim foi um pedagogo, historiador, sociólogo, psicólogo e médico sergipano. Filho do vaqueiro Paulo José Bomfim e da descendente de comerciantes portugueses Maria Joaquina, nasceu em 8 de agosto de 1868, em Aracaju. O campo da medicina foi sua primeira área de atuação, concluindo os estudos na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, em 1890. Ao trabalhar como médico-cirurgião na Brigada da Polícia, foi convidado a participar de uma expedição rumo ao sul do Rio Doce – região situada entre Minas Gerais e Espírito Santo – com o objetivo de manter contato com os indígenas botocudos. Essa experiência marcou fortemente Bomfim, que passou a nutrir grande admiração pelos indígenas, sendo a defesa e o rompimento dos estereótipos atribuídos a esses povos uma das marcas de sua posterior produção intelectual. A vida de Manoel Bomfim passa por um grande revés em 1894, com a morte da sua filha por tifo endêmico. A tragédia motivou Bomfim a abandonar a medicina, passando a atuar na área de Educação. Em 1896, torna-se professor da Escola Normal, no Distrito Federal, e ingressa no Pedagogium, instituição governamental criada em 1883, que tinha por objetivo promover o desenvolvimento da educação nacional. Nomeado diretor do Pedagogium em 1897, demonstra um crescente engajamento em favor de mudanças na estrutura educacional brasileira. Se dedicou a vários projetos, entre cursos de aperfeiçoamento, criação de revistas, além do interesse em transformar a instituição em centro de cultura superior aberto ao público. Essas ações estavam fundamentadas na ideia de que a educação é um instrumento de suma importância para a transformação da sociedade. Logo, defendia que o Estado brasileiro deveria tomar a frente das ações de promoção da educação básica, tornando-a acessível a todos. Somente a educação transformaria o Brasil num país de fato democrático, capaz de romper com a miséria e o atraso. Nos primeiros anos do século XX, foi enviado para Paris, onde, além de investigar as estruturas pedagógicas europeias, aproveitou a oportunidade para estudar Psicologia na Sorbonne. O contato com as novidades na esfera intelectual da Europa impulsionou a publicação de sua obra mais celebre: América Latina: Males de origem (1905). Nesse livro, Bomfim vai de encontro às ideias que circulavam naquele período, que, apoiadas no darwinismo social, atribuíam à miscigenação do povo brasileiro a causa maior do atraso da nação. Negando tais ideias racistas, Manoel Bomfim apontava que a raiz dos males da América Latina estava na forma como se deu a colonização no continente, e que a Educação era a única solução para que o Brasil vencesse seu atraso. A obra foi recepcionada em meio a várias críticas, muitas delas proferidas pelo também sergipano Silvio Romero, grande defensor da teoria do embranquecimento da raça como solução para o “subdesenvolvimento” brasileiro. Os ataques sofridos pela intelectualidade da época não impediram a continuidade das suas atividades. Esteve à frente da criação do Laboratório de Psicologia da Pedagogium; assumiu, nessa mesma época, a diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal; além de permanecer ativo na produção de livros e artigos para jornais e revistas. Sustentando uma trajetória multifacetada, Manoel Bomfim falece em 1932, sendo resgatado nos últimos anos como um intelectual precursor de uma série de ideais que hoje nos são fundamentais para a consolidação de uma sociedade mais justa.

Para saber mais:

AGUIAR, Ronaldo Conde. O Rebelde Esquecido – tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. FUNDAÇÃO DE CULTURA E ARTE APERIPÊ - APERIPÊ TV. Plural (7ª temporada) - Manoel Bomfim - Bloco [1/2]. Youtube, 5 de jul. de 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eOqEeVMPquk