Maria Bonita

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Maria Bonita

por Raquel Anne Lima de Assis

Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, foi uma sertaneja, cangaceira e companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Até a sua morte, em 28 de julho de 1938, seria conhecida como Maria do Capitão ou Dona Maria entre os bandoleiros, ou ainda como Maria de Déa, em referência a sua mãe Maria Joaquina Conceição de Oliveira, mais conhecida como dona Déa. Filha do agricultor José Gomes de Oliveira, o Zé de Felipe, Maria de Déa nasceu em 17 de janeiro de 1910, no povoado de Malhada da Caiçara, na Bahia. Desde os quinze anos, Maria Bonita era casada com seu primo, o sapateiro José Miguel da Silva. O casal vivia em Santa Brígida, na Bahia. Contudo, Maria de Déa estava insatisfeita com sua vida conjugal diante das traições do seu marido. Como consequência, era recorrente, após brigas do casal, Maria Bonita passar alguns dias na casa dos seus pais. Em uma dessas estadias, conheceu Lampião, por quem se apaixonou e resolveu abandonar sua vida em Santa Brígida para se unir ao seu bando. Maria Bonita não foi a única a se integrar aos cangaceiros por escolha; muitas outras mulheres também se apaixonavam ou estavam cansadas da vida que levavam com seus familiares. Por outro lado, uma grande parte foi sequestrada por membros do bando. Mas Maria de Déa inovou se tornar a primeira mulher cangaceira. Até 1930, era proibida, pelo próprio Lampião, a viagem de mulheres junto aos cangaceiros. Quando o rei do cangaço voltou atrás de sua decisão, outros bandoleiros também começaram a levar companheiras em suas andanças pelo sertão. Suas viagens ocorriam principalmente entre Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe. O território sergipano era considerado por Lampião uma das localizações mais seguras, pela proteção que recebia de coronéis, políticos e alguns integrantes da volante, como era chamada a polícia local. Entretanto, foi em Sergipe, na Grota do Angico, em Poço Redondo, que Lampião e Maria Bonita foram mortos pela polícia. Maria de Déa, apesar de carregar consigo um revólver Colt calibre 38 e um punhal, não participava dos combates. Além de afazeres domésticos, seu trabalho era também obter informações sobre as volantes junto às esposas de protetores e agenciar homens para o bando. Mulher vaidosa e que adorava animais, em raros momentos intercedia para que seu companheiro não assassinasse inocentes, principalmente crianças, mas, na maioria dos casos, era cúmplice nas torturas e nos assassinatos. Não admitia que mulheres traíssem seus esposos, defendendo como castigo a própria morte. Sua empatia maior pelas crianças ocorreu principalmente após o nascimento de sua filha, Expedita Ferreira Nunes, em 1932. A criança foi doada a habitantes locais e criada em Porto da Folha, Sergipe; mais um motivo da preferência de Maria Bonita pelo estado, pois poderia visitar sua filha. Há boatos que o casal teria tido outro filho, mas não há comprovações. Maria de Déa morreu aos 28 anos, sem saber que ficaria conhecida na história como Maria Bonita.

Para saber mais:

FEMININO CANGAÇO. Direção: Lucas Viana e Manoel Neto. Produção: Centro de Estudos Euclydes da Cunha e Webtv.UNEB: Núcleo de Produção Audiovisual. Coprodução: Épuros Lab. Audiovisual e DNA Studio. Apoio Institucional: UNEB. Brasil. 2016. 1h15min. Film. Color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wsTCQ7LOeds. Acesso em: 20 de março de 2021 às 09:30h. NEGREIROS, Adriana. Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2018.