Fausto Cardoso

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Fausto Cardoso

por Raphael Vladmir Costa Reis

Fausto de Aguiar Cardoso foi um grande expoente da política sergipana no limiar do regime republicano. Nascido em Divina Pastora, no dia 22/12/1864, cursou o ensino primário em cidades como Maruim, Capela e Aracaju, concluindo seus estudos secundários no Colégio Sete de Setembro, localizado em Salvador. Em 1880, sob a influência do movimento positivista que permeava os círculos intelectuais naquele período, Cardoso ingressou na Faculdade de Direito do Recife, desempenhando um relevante papel na editoração dum jornal denominado Saara. Nesse contexto, o jovem estudante participava proativamente dos debates literários/filosóficos promovidos pela instituição e logo tornou-se conhecido como discípulo de Tobias Barreto, intelectual sergipano que integrava o quadro docente daquela Faculdade. Após a obtenção do diploma, Fausto Cardoso retornou a Sergipe e exerceu sua primeira promotoria no município de Capela. Mas foi em Laranjeiras, no ano de 1887, que o magistrado testemunhou, na prática, a força do movimento republicano que dissolveria o império dois anos depois. Mesmo fortalecendo seu engajamento político a partir dessas dinâmicas, quando obteve destaque como influente propagador daquele ideário, foi destituído do cargo em 1890 e radicou-se no Rio de Janeiro, local no qual desempenhou as funções de advogado, jornalista e professor. Em 1894, ao lado de Sílvio Romero, Cardoso apoiou o coronel Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão, que postulava uma cadeira no senado por Sergipe e teve sua investidura chancelada pelo presidente Floriano Peixoto. A candidatura, no entanto, foi decretada como ilegal, gerando inúmeros descontentamentos que culminaram com o encurtamento do Governo Constitucional presidido por José Calazans. Além desse grave efeito estrutural, a acirrada disputa por influência política implicou na criação de dois grupos: os Pebas (nomenclatura que representava o povo de Aracaju) e os Cabaús (uma referência a região canavieira, local no qual José Calazans instituiu a sede do governo). Em meio a um quadro político-administrativo efervescente entre 1889-1898, Fausto Cardoso foi eleito deputado federal em 1900 e testemunhou o domínio do grupo liderado pelo Monsenhor Olympio Campos sobre as terras sergipanas. No último ano da primeira legislatura, ele criticou as arbitrariedades praticadas pelo olympismo, mas seus esforços para desestruturar aquela ordem não obtiveram o desfecho previsto, pois os correligionários de Campos assumiram o governo estadual em 1902 (Josino Menezes) e 1905 (Guilherme Campos). Nesse período, conforme pode-se constatar, a chamada “política dos governadores” regia a indicação de seus sucessores. Em 1906, ao retornar a Sergipe após alguns anos no Rio de Janeiro, Cardoso se restabeleceu em sua terra natal ensejando o fim daquela dominação. Com a criação do Partido Progressista (PP), a organização por esse objetivo foi ampliada e ele obteve outra vitória, que lhe assegurou uma cadeira na Câmara dos Deputados. No dia 10/08/1906, enquanto o governo estadual era deposto, os irmãos Olympio e Guilherme Campos notificavam o Governo Federal sobre a ilegalidade do movimento que ficou conhecido como “Revolta de Fausto Cardoso”. Embora o presidente da República fosse enquadrado como amigo do líder daquela insurreição, houve uma autorização de intervenção federal que contou, inclusive, com a aprovação da Câmara dos Deputados. A partir dessa decisão, o próprio Cardoso se antecipou em convencer o comandante sobre a legalidade da revolta, mas sua tentativa de contornar o movimento das tropas foi malsucedida. Nesse contexto, o dirigente e alguns seguidores se dirigiram até a sede do governo no sentido de intensificar o protesto. Lá, eles foram alvejados com disparos que resultaram em aproximadamente três atingidos e o saldo, segundo fontes, foi de duas vítimas fatais, incluindo Fausto Cardoso, cujo sepultamento fora cercado de grande consternação. Assim, a revolta que se estendeu por 17 dias encontrou um desfecho trágico e implacável, tornando seu mentor uma importante referência da política sergipana.


Para saber mais:

DANTAS, Ibarê. História de Sergipe República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.

SOUZA, Teresinha Oliva de. Impasses do Federalismo Brasileiro - Sergipe e a Revolta de Fausto Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985.