Cangaceiro

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Cangaceiro

por Karla Karine de Jesus Silva


Cangaceiro é alcunha dada ao integrante do cangaço. Fenômeno social exclusivo do Nordeste entre 1870 e 1940, é alvo de variadas interpretações. Para alguns estudiosos e pesquisadores, o cangaço foi um movimento de sertanejos miseráveis, conscientes da necessidade de mudar sua realidade. Já outros o descreveram como uma espécie de rebeldia nos meios rurais contra os latifundiários e a concentração de poder local, expressão do banditismo social. Tem seu nome derivado da canga, peça de madeira colocada sobre os pescoços dos bois utilizados para puxar uma carroça. Com estilo de vida nômade, o cangaceiro andava em bando, conhecia bem a região em que circulava, geralmente o sertão e a caatinga, vivia de assaltos e invasões de fazendas e pequenas cidades, praticando crimes, assassinatos, estupros, fugindo da polícia. Bem armado, munido de espingarda, rifle, faca e peixeira, o cangaceiro era reconhecido de longe com sua inconfundível vestimenta: chapéu de couro, cantil, botas ou alpercatas, perneiras, calças curtas ou longas, camisa de manga longa, túnica, cinto de couro, cartucheira, sacola, lenço, cobertor, adereços como amuletos e ornamentos. Muitos eram vaidosos como Lampião, exigindo que seu bando usasse uniforme. Além de servir as necessidades destes homens e mulheres que dormiam em acampamentos no meio do mato, em regiões áridas, muitas vezes percorrendo longas distâncias, sua vestimenta era uma expressão da sua identidade cultural. Apesar do cangaço ter se extinguido em 1940, a figura do cangaceiro ainda vive na memória coletiva dos nordestinos, especialmente nas cidades interioranas e nas comunidades rurais, povoando elementos culturais como a música, a literatura de cordel, as lendas, os contos. No limiar entre o bandido e o herói, o cangaceiro se configurou num símbolo de resistência contra o poder dos coronéis e a pobreza regional.

Para saber mais:

HOBSBAWM, Eric. Bandidos. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Os Cangaceiros. São Paulo: Duas Cidades, 1977.